Protótipo de telhado verde com Portulaca grandiflora - análise da absorção de águas pluviais e do software
GreenRoof
O protótipo de cobertura verde construído pela arquiteta Silvia
Baldessar, participante desta pesquisa, avalia a eficácia de absorção de águas
pluviais por um telhado que utiliza a espécie vegetal Portulaca grandiflora. Essa espécie foi escolhida por ser indicada para telhados verdes
extensivos, de acordo com Tavares (2001).
Para comparação de resultados, foram construídos mais dois
protótipos ao lado desse: um reproduzindo uma cobertura de telhado cerâmico e
outro uma laje impermeabilizada.
Os três protótipos, de 1m2 cada um, foram montados na
residência da arquiteta em local sem sombreamento seguindo o projeto da figura
01. Construídos com tábuas de pinus protegidas por emulsão asfáltica para
impermeabilização, receberam também caixas internas confeccionadas com chapas
de alumínio de 0,4mm de espessura. O escoamento da água em cada protótipo
ocorre por uma válvula de plástico comum de lavatório, que leva o líquido até
um recipiente graduado vazio.
No protótipo que recebe vegetação a camada de drenagem, com
espessura entre 2,5cm a 3,0cm, foi composta por argila expandida. Imediatamente
acima foi inserida uma camada de filtro executada em tecido geotêxtil, seguida
de uma camada de aproximadamente 5cm de substrato fornecido pelo Museu Botânico
de Curitiba, que recebeu água até sua saturação (detectada pelo escoamento do
excesso). Uma camada de tecido geotêxtil protege a saída do escoamento da água
de possíveis obstruções.
O protótipo de laje impermeabilizada consiste apenas na caixa de
madeira externa, impermeabilizada e portadora de uma caixa de alumínio em seu
interior, base dos outros dois protótipos. Uma malha metálica protege a válvula
de escoamentos da descida de partículas sólidas, como folhas.
O protótipo que simula um telhado convencional possui uma estrutura
de madeira totalmente embutida no espaço. Recebe telhas de barro usadas
oriundas de uma construção com cerca de 40 anos de idade, para simulação de um
telhado tradicional da cidade de Curitiba. Novamente uma malha metálica é utilizada
para evitar obstruções no escoamento de água.
Imagem 01 - Planta e corte
dos protótipos
Para a verificação do comportamento do protótipo de telhado verde
diariamente foram coletados dados dos recipientes graduados, das estações
meteorológica e agrometeorológica e da aplicação do software
GreenRoof.
Este programa compara o telhado verde existente e a hipótese de um
mesmo telhado revestido de cobertura impermeável, através da entrada de dados
como precipitação, evapotranspiração e cobertura do telhado. Nesta pesquisa, a
simulação foi feita nos protótipos e também em um edifício com cobertura verde
já existente na cidade de Curitiba.
Resultados parciais:

Resultados parciais:
A verificação do comportamento do protótipo de telhado verde ocorreu através de coleta diária da água recolhida pelos recipiente graduados sob os protótipos. A leitura da água escoada pelo experimento foi feita às 00 horas UTC (Coordinated Universal Time), equivalente às 21 horas (ou às 22 horas em horário de verão) para melhor confrontar com dados recolhidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Os valores obtidos foram organizados em planilha no período de 26 de novembro de 2011 a 27 de fevereiro de 2012, e são apresentados na tabela 01. É importante salientar que inicialmente o substrato foi encharcado de água e aguardou-se três dias para o início das medições em razão do tempo necessário para escoar o excesso de água.

Tabela 01 - Coleta de dados
dos protótipos do experimento
Para o telhado verde já existente, que encontra-se sobre um edifício
residencial, foram coletados dados das estações meteorológica e
agrometeorológica para a aplicação no software GreenRoof.
A tabela 02 apresenta os dados de precipitação obtidos pelo INMET no
mesmo período dos dados obtidos pelos protótipos. Percebe-se uma diferença em
relação à quantidade de água recolhida pelo protótipo de laje impermeável, que
também funciona como um indicador de precipitação. Isso de deve à diferença
geográfica onde foram realizadas as medições, em pontos distintos da cidade de
Curitiba.
Tabela 02 - Dados de
precipitação diária retirados do INMET
Como o software GreenRoof exige dados de evapotranspiração, foram obtidos valores mensais do
estado do Paraná através do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), através de
mapas com valores médios de evapotranspiração que abrangem todo o estado e
possuem isolinhas com intervalo de 0,5mm/dia. Assim, para estabelecer o valor
mais próximo para a região de Curitiba, foi realizada a interpolação linear dos
dados do mapa para a região em questão. Os resultados encontram-se na tabela
03.
Tabela 03 - Dados
interpolados das normais de evapotranspiração - IAPAR
De acordo com a aplicação do software GreenRoof nos protótipos construídos o telhado verde escoou 32% dos 325
litros de precipitação computados no período de 94 dias entre 26 de novembro de
2011 a 27 de favereiro de 2012. Enquanto isso, o telhado convencional escoou
96%.
Aplicando-se o software no telhado verde existente no mesmo período de tempo verificou-se
que dos 92800 litros precipitados 21% foram escoados, enquanto que se a mesma
área fosse coberta com telhado convencional 96% seriam escoados.
Os dados obtidos pelo programa de computador são muito parecidos com
os obtidos pelas medições da água captada pelos recipientes graduados sob os protótipos, como
mostra a tabela 04:
Tabela 04 - Medições de
escoamento de águas pluviais nos protótipos pelos recipientes graduados e pelo software GreenRoof
Discussão:
Os dados obtidos comprovam a propriedade atribuída aos telhados
verdes por autores como Cantor (2008), pois apresentam redução acentuada da
água de escoamento durante períodos de chuva. Isso demonstra que o problema da
redução da permeabilidade do solo em regiões urbanas pode ser atenuado pelo uso
do telhado verde.
Além disso, o resultado da aplicação do software
GreenRoof aos protótipos construídos mostrou que a simulação retornou valores
compatíveis com os medidos, levando a crer que os resultados obtidos pela
simulação aplicada no telhado verde existente sobre o edifício são verdadeiras
e transcrevem realmente o comportamento do telhado verde na região de Curitiba.
Verifica-se novamente também uma redução acentuada no volume de água escoada.
De acordo com o Código de Posturas da cidade de Curitiba a taxa de
ocupação para algumas zonas residenciais (ZRs) é de 50% da área do terreno e a
taxa de permeabilidade do solo de 25%. Se a parte edificada contiver um telhado
verde tem-se o equivalente a uma área permeável que pode chegar a 75%, ou seja:
maior permeabilidade, e menor a quantidade de água escoada para a rede de
captação de águas pluviais da cidade.







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