O que é um Telhado Verde?


Introdução:

Os telhados verdes caracterizam-se pela aplicação de vegetação sobre a cobertura de edificações, com impermeabilização e drenagem adequadas.

Como vantagens da utilização desse tipo de cobertura podem ser citadas:

  • Diminuição do “stress” térmico da cobertura da edificação;
  • Diminuição da recepção da radiação UV;
  • Aumento da conservação do material da cobertura;
  • Aumento da conservação da impermeabilização;
  • Diminuição da carga térmica da edificação reduzindo a demanda de ar condicionado;
  • Filtragem do ar poluído;
  • Melhoria do microclima da região e arredores;
  • Retenção de águas pluviais;
  • Diminuição dos excedentes do esgoto nas redes de águas pluviais;
  • Absorção da radiação solar e transferência do CO2 em O2 pela fotossíntese;
  • Absorção do ruído; e
  •  Diminuição da carga térmica do telhado

.
         Por essas características os telhados vivos tornam-se bastante adequados a cidades de clima tropical, mas podem ser aplicados em outros tipos de clima mais rigorosos como na Europa, aonde essa tecnologia vem sendo largamente utilizada na Alemanha, apresentando excelentes resultados, sendo adotada não só em empreendimentos residenciais como também comerciais e industriais. Vale ressaltar que o sucesso da experiência alemã fez com que vários estados e municípios acrescentassem na legislação ambiental e no código de obras aspectos relativos a esse tipo de telhado (KÖHLER, 2002).

        Os telhados verdes podem ser classificados em telhados intensivos e extensivos, que são definidos em função da escolha da vegetação. Os telhados intensivos caracterizam-se pelo uso de plantas que demandam maior consumo de água, substratos, adubo e manutenção geral. Já os telhados extensivos se caracterizam pela alta resistência às variações pluviais, tornando desnecessária a manutenção e reduzindo os custos da estrutura em função de camadas mais estreitas e leves de substratos.


Histórico do telhado verde: 

       A idéia de se criar coberturas verdes não é algo recente; existem relatos de 900 a. C., no Oriente, quando havia o costume de se plantar jardins suspensos sobre arcos ou telhados. Como exemplo em construções antigas é possível citar os Zigurates (templos sumerianos, assírios e babilônicos), mausoléus de Roma, casas da Islândia (Fig. 1), EUA, Canadá e Escandinávia, e o urbanismo asteca. Algumas dessas construções utilizavam turfa seca, que se torna impermeável com técnica adequada. Outras como bétula e alcatrão, não mais utilizadas por serem cancerígenas; eram ainda utilizadas como hortas em terraços. Assim, é possível explicar sua origem pela escassez de materiais tradicionais e falta de espaço, o que levou os povos a aproveitarem materiais locais, como grama e pedra, e construírem seus jardins verticalmente (MINKE, 2004; OSMUNDSON, 1999).


 Figura 1 - Turf-houses, Islândia. Fonte: MINKE, G. Techos verdes: Planificación, ejecución, consejos prácticos, p. 7. Editorial Fin de Siglo. Montevideo, Uruguai. 2004.


          Na Idade Média, seu uso estava relacionado à conservação de água e produção de alimentos, uma vez que a terra era escassa. Os benefícios dessas estruturas fizeram com que se popularizassem e se desenvolvessem até chegarem aos modelos que conhecemos hoje (NASCIMENTO, 2008).

       Foram diversos os projetos que utilizaram as coberturas verdes em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o apogeu deu-se na década de 1880, quando o Rudolph Aronson's Casino Theater (Fig. 2), em New York, incorporou o teto-jardim em suas apresentações de verão, influenciando outros empreendimentos da época (OSMUNDSON, 1999).


Figura 2 - Rudolph Aronson's Casino Theater Fonte: NASCIMENTO, W. Coberturas verdes no contexto da região metropolitana de Curitiba – barreiras e potencialidades, p. 26. Universidade Federal do Paraná. 2008.

          No início do século XX, os ideais modernistas da arquitetura justificaram o uso das coberturas verdes, sendo defendidas por mestres, como Le Corbusier. Porém, alguns obstáculos impediram sua popularização, como problemas técnicos e econômicos, que só foram solucionados no pós-guerra, com alguns equívocos, como a escolha de espécies inadequadas para o sistema e falta de técnicas específicas de impermeabilização. O primeiro período real de desenvolvimento no estudo das coberturas verdes ocorreu entre as décadas de 1950 a 1980, com diversificação de pesquisas técnicas, como eficiência energética, térmica e acústica, que aliadas ao interesse de se criar construções mais sustentáveis, estimulou a popularização. Estudos, livros e artigos também colaboravam para isso, aliados a fundos de investimento para o desenvolvimento de projetos e organizações. Atualmente, essa preocupação ambiental fez surgir leis e incentivos que estimulam o crescimento desse sistema na Europa e América do Norte (WELLS e GRANT, 2004; NASCIMENTO, 2008).

           No Brasil, a utilização de tetos vivos é relevante em edifícios institucionais modernos, popularizados através dos jardins do paisagista Burle Marx, tendo como exemplos a Associação Brasileira de Imprensa, de Marcelo e Milton Roberto, e o edifício do Ministério da Educação e Saúde, projeto de Afonso Reidy, Carlos Leão, Ernani de Vasconcelos, Jorge Moreira, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, ambos no Rio de Janeiro. Com relação a prédios residenciais, seu uso foi pouco significante, tendo como empecilho questões climáticas e as técnicas inadequadas utilizadas na construção das lajes. Ainda hoje são raras as residências
que utilizam a técnica, sendo possível citar como exemplo o edifício da Rua Parintins, 198, na Vila Izabel – Curitiba (Fig.3) (NASCIMENTO, 2008).


Figura 3 - Teto verde em Curitiba Fonte: do autor

          Nesse caso, nota-se a problemática de ser um sistema ainda pouco conhecido no país. A vegetação utilizada não é adequada, necessitando freqüente manutenção, ainda que seja uma cobertura extensiva. Embora possua esse atual uso, extensivo, a cobertura apresenta espessura suficiente para ser utilizada intensivamente, com espécies de grande porte. Seria necessário, portanto, maior estudo teórico para que os demais projetos nacionais que desejassem utilizar esse sistema pudessem fazê-lo de forma adequada.

Técnicas: 

        As coberturas verdes compõem-se de sucessivas camadas, com diversas funções, que visam simular o solo natural. A composição das camadas é variada de acordo com os objetivos do projetista, mas de maneira geral apresenta a seguinte ordem:
  • Impermeabilização, para evitar a infiltração de água, especialmente nos cantos. A vida útil da cobertura verde depende especialmente da correta instalação do impermeabilizante (líquido ou manta), uma vez que é de difícil manutenção;
  • Barreira anti-raízes (física ou química), que irá prevenir danos à estrutura da laje;
  • Drenagem, sendo porosa, de tapete ou placas, com o objetivo de acumular água e filtrar o excesso. É interessante levar em consideração a possibilidade de reaproveitamento da água drenada;
  • Substrato – a camada dos nutrientes – necessitando ser leve e podendo ser enriquecido com minerais e húmus. Sua composição e espessura irão variar de acordo com o tipo de vegetação utilizada e tamanho das raízes;
  • Vegetação, com espécies adequadas. Elas devem ser definidas de acordo com a orientação solar, o clima, o vento, sua resistência a excesso ou falta de água, variações de temperatura, manutenção exigida, inclinação do telhado, etc. Quanto mais densa essa camada, melhor seu efeito térmico.
  • É necessária ainda proteção anti-deslizamento, caso a laje seja inclinada, com a utilização de raiz densa ou materiais anti-deslizantes, como mantas onduladas de alumínio e agregados de argila expandida (LAZZARIN, CASTELLOTI, BUSATO, 2005; MINKE, 2004).

          Como variação na técnica, é possível citar a adição de uma camada de isolamento térmico, acima do impermeabilizante. Também, a inserção da camada de retenção (coletora de partículas provenientes das camadas superiores), ou de proteção mecânica, ambas logo após a camada anti-raízes; ou a camada de desobstrução - manta que separa o solo do dreno e armazenagem, logo após a camada drenante. Alguns projetos apresentam um colchão de ar entre a laje e a cobertura verde, e há ainda empresas que desenvolvem sistemas de inversão de camadas, como a impermeabilizante acima da de isolamento. Existem ainda substratos especiais – duas vezes mais leves que a terra comum e de maior durabilidade (LAZZARIN, CASTELLOTI, BUSATO, 2005). A figura 4 apresenta as disposições típicas para projetos de telhados extensivos e intensivos.


Figura 4 - Comparação entre cobertura extensiva e intensiva Fonte: do autor, baseado em modelo disponível em: Green Roof Service <www.greenroofservice.com>

       A diferença técnica entre coberturas intensivas e extensivas é facilmente verificada pela espessura do substrato: nas primeiras, essa camada possui 30cm em média, enquanto nas segundas, 10cm no máximo. De maneira geral, coberturas intensivas (Fig. 5) funcionam como um jardim, com maior manutenção e necessidade de rega, fertilização e poda. Geralmente são selecionadas espécies mais pesadas e maiores, como arbustos e árvores, necessitando maior capacidade estrutural. Coberturas extensivas (Fig. 6) são discretas e têm como objetivo a pequena ou nenhuma manutenção (1 ou 2 vezes ao ano), com espécies que se desenvolvem sozinhas, como plantas rasteiras, suculentas ou gramíneas, pequenos arbustos, musgos ou folhagens. Retêm de 70 a 90% das águas das chuvas e não necessitam irrigação, geralmente apresentando capacidade de regeneração. Seu crescimento médio é de 6 polegadas (LAZZARIN, CASTELLOTI, BUSATO, 2005; MINKE, 2004).


Figura 5 - Cobertura intensiva Fonte: HENEINE, M. Cobertura verde, p. 17. Escola de Engenharia da UFMG. Belo Horizonte, MG. 2008



Figura 6 - Cobertura extensiva Fonte: HENEINE, M. Cobertura verde, p. 19. Escola de Engenharia da UFMG. Belo Horizonte, MG. 2008

         A vegetação nas coberturas verdes pode ser aplicada de diversas maneiras, sendo possível citar a instalação em módulos grandes ou pequenos; ou in loco, com sementes, mudas ou tapetes (rolos). Os módulos grandes (Fig. 7) compõem-se de caixas de cerca de 0,25m² com várias espécies e materiais diferentes, sendo encontrados no mercado módulos em madeira, coco reaproveitado, reciclagem de embalagens Tetra Pak, bambus, etc. Também com esses materiais são construídos os módulos pequenos, de menor tamanho e uma só espécie. Algumas empresas inserem nos módulos um sistema de drenagem interna, que é conectada a um sistema de drenagem mestra, dispensando a instalação de algumas camadas in loco. Outra forma, mais econômica, de se inserir a vegetação na cobertura verde é através de sementes ou mudas. Nesse caso, fazem-se pequenos nichos no substrato (Fig. 8). Finalmente, existem no mercado diversos tapetes vegetais (Fig. 9). Alguns apresentam as espécies no início de seu desenvolvimento, apenas para a instalação, que posteriormente irão se desenvolver corretamente e atingir seu estágio mais evoluído. Outros fornecem o tapete mais desenvolvido, colocado diretamente sobre a laje e dispensando as demais camadas, mas a resistência dessa solução é duvidosa. Também é encontrado no mercado substrato em rolos (SKYGARDEN, 2010; ECOTELHADO, 2010; INSTITUTO CIDADE JARDIM, 2010).


Figura 7 - Telhado com módulos Fonte: GREEN ROOFS. Disponível em: <http://www.greenroofs.com/projects/lafuente/lafuente1.jpg>


Figura 8 - Nicho para mudas Fonte: ZUNINGA/LEVY ECOROOF. Report. Oregon, Estados Unidos. 2009


Figura 9 - Produtos em rolos Fonte: COLBOND BUILDING PRODUCTS. Green Roof / Roof Garden Products. Estados Unidos.






Bibliografia:

LAAR, M. et al. Estudo de aplicação de plantas em telhados vivos extensivos em cidades de clima tropical. VI ENCAC – Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído. São Pedro, SP. 2001

LORENZI, H. Plantas ornamentais no Brasil: arbustivas, herbáceas e trepadeiras. Instituto Plantarum, São Paulo. 1999

KÖHLER, M.; et al. Green roofs in temperate climates and in the hot-humid tropics- far beyond the aesthetics. Environmental Management and Health, Vol. 13 No. 4, pp. 382-391. Emerald, 2002

MINKE, G. Inclined green roofs: Ecological and economical advantages and passive heating and cooling effect. In: International Conference on Passive and Low Energy Architecture, PLEA, 18., 7-9 de novembro de 2001, Florianópolis. Proceedings... 2001.

MINKE, G. Techos verdes: Planificación, ejecución, consejos prácticos. Editorial Fin de Siglo. Montevideo, Uruguai. 2004.

BARBOSA, A.C.S. Paisagismo Jardinagem e Plantas Ornamentais. 7ª edição, Ed. Iglu. 2009.

NASCIMENTO, W. Coberturas verdes no contexto da região metropolitana de Curitiba – barreiras e potencialidades. Universidade Federal do Paraná. 2008.

LAZZARIN, R.; CASTELLOTI, F.; BUSATO, F. Experimental measurements and numerical modelling of a green roof. Universidade de Padova. Vicenza, Itália. 2005

INSTITUTO CIDADE JARDIM. Disponível em: <http://www.institutocidadejardim.com.br/> Acesso em: 10.ago.2010.

SKYGARDEN ENVEC. Disponível em: <http://www.envec.com.br/> Acesso em: 12.ago.2010

ECOTELHADO. Disponível em: <http://www.ecotelhado.com.br/> Acesso em: 10.ago.2010

OSMUNDSON, T. Roof Gardens – History, Design and Construction. W.W. Norton & Company, Inc., New York, NY. 1999.

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